quinta-feira, 26 de julho de 2012

MULHERES NA MINERAÇÃO
Elas já são 20% dos trabalhadores de No Projeto Serra Pelada e na Serra dos Carajás, mudam o cenário de lugares onde só homens podiam entrar e contam como enfrentam o dia a dia em um ambiente tão hostil.
A rotina é puxada. Para os trabalhadores das minas na região sul do Estado do Pará, o dia começa antes mesmo de a noite terminar. Às 4h, quando o céu ainda exibe um tom de azul-escuro profundo, a coordenadora de meio ambiente Euzenir Porto, 28 anos, já está de pé. Enquanto acorda o marido, o engenheiro mecânico Antônio Lima, 26, ela passa o café, tinge os lábios com batom e arruma seus apetrechos para mais um dia de trabalho. Na mochila, o capacete e os abafadores de ouvido dividem espaço com o estojo de maquiagem e um pequeno travesseiro, que será usado no trajeto de uma hora entre a Parauapebas, onde mora, ao Projeto Serra Pelada municipio de Curionopooilis, onde trabalha (Colossus Minerals). No lugar que ficou mundialmente conhecido por ter abrigado uma das maiores áreas garimpeiras do planeta, Euzenir representa a verdadeira conquista feminina. Ela é uma das mais de 130 trabalhadoras contratadas desde 2007 pela mineradora canadense Colossus, que em parceria com a Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp) conseguiu o direito de explorar novamente a região.
Se até a década de 1990 a presença das mulheres era proibida entre os mais de 100 mil homens do garimpo, hoje elas não só circulam como também comandam a implantação da Nova Serra Pelada. Das funcionárias femininas da Colossus, 10% ocupam cargos de gerência, assim como Euzenir, que deixou as praias de sua terra natal, em Porto Seguro, na Bahia, para chefiar 70 homens no monitoramento ambiental do projeto. “Não sinto preconceito ou insubordinação, mas já me disseram que tenho fama de brava”, conta, bem-humorada. Atraída pelos altos salários e desafios do setor, ela chegou a Parauapebas trazendo a mãe e as duas irmãs a tiracolo. Lá, casou-se com Antônio, teve a filha Letícia, 3 anos, comprou uma casa e um carro zero, ambos quitados. Agora investe parte dos rendimentos do casal, cerca de R$ 13 mil mensais, em uma pós-graduação em mineração, em aulas de inglês e em pilates, tarefas que ocupam seu pouco tempo livre após a maratona de nove horas trabalhadas na mina. “É duro, mas faço isso pelo futuro da minha filha”, diz Euzenir.
A participação feminina entre os trabalhadores da mineração tomou impulso nos últimos dez anos. “As mulheres sempre estiveram nos garimpos acompanhando seus maridos de forma ilegal”, conta Claudio Mancuso, presidente da Colossus no Brasil. “Conforme o setor evoluiu e se profissionalizou, a mão de obra feminina passou a ser regularizada e requisitada”, diz ele. É uma enorme conquista. Na antiga Serra Pelada, associava-se a presença das mulheres à prostituição. Agora, elas formam um contingente qualificado, boa parte com curso superior de geologia e engenharia. Em cargos de comando, chefiam uma legião de homens, a maioria peões de obra nas minas de Serra Pelada e de Carajás, também no sul do Pará, onde a Vale extrai minério graças ao trabalho de mil funcionárias, 13% da força de trabalho da empresa no local.

Para prosperar no garimpo, muitas têm de enfrentar o preconceito e a desconfiança masculinas. Tatiane Arouche, 25 anos, supervisora em segurança do trabalho, deparou-se com os desafios de lidar com os colegas de trabalho homens logo no início da profissão. Aos 19 anos, ela teve de advertir um peão de obra, com mais de 30 anos de serviço, que estava sem os equipamentos de segurança. “A resposta dele foi: ‘Você devia estar brincando de boneca com a minha filha’”, conta Tatiane. “Na hora senti vontade de chorar, mas me mantive firme e reforcei a bronca.” Desse dia em diante, a maranhense, reconhecida pela seriedade com que manda em mais de 500 homens, guardou um conselho do pai, topógrafo: “Nunca fique sorrindo para peão de obra.” O semblante fechado só é deixado de lado quando ela fala do noivo, motorista na mina da Colossus. O casal já mora junto há um ano, mas ela faz questão de dizer que não quer se casar no papel. “Só uso aliança a pedido dele”, conta, deixando transparecer o orgulho por sua independência.



A engenheira elétrica Cristiane Silva, 32 anos, tem outra estratégia para lidar com seus subordinados do sexo masculino. “Conquisto meus funcionários com humor, humildade e gentileza”, conta a paraibana de João Pessoa. Com apenas 1,52 m de altura, voz suave e rosto de criança, Cristiane também sabe se impor, quando acha necessário. “Já tive problemas com um eletricista evangélico, que não gostava de receber ordens de mulher. Eu disse para ele: ‘Olha, não vou mudar o meu sexo, então você vai ter que me obedecer’”, diz. As dificuldades de aceitação entre os gêneros também foram sentidas por Cristiane durante a faculdade em Campina Grande. Em sua turma, havia apenas sete mulheres e 22 homens. Mesmo que não houvesse discriminação por parte dos colegas, ela testemunhou de perto o preconceito de um professor. “Ele achava que as mulheres só podiam se sentar no fundo da sala. Mas eu sentava bem na frente, afinal, era meu Direito estar ali”, conta.


Mesmo com todos os avanços, a própria legislação reforça o preconceito ao limitar a participação feminina ao trabalho a céu aberto. Seguindo uma convenção internacional, um decreto lei de 1938 proíbe que as mulheres atuem no subterrâneo. Elas só podem desempenhar funções acima do solo, não menos exigentes e desgastantes. “É uma lei completamente defasada”, lamenta Celaro, da Colossus. Mas o futuro é promissor. “As mulheres já afirmaram sua competência no setor de mineração e alguns gestores até preferem trabalhar com elas por sua determinação e disciplina”, reforça Luciana Magalhães, gerente regional de recursos humanos da Vale em Carajás. Prova de que nem as funções mais árduas são um impedimento para a ascensão profissional do chamado sexo frágil.
Fonte: coomigasptocantins1.blogspot.com.br


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