Revista VEJA, 31 de Outubro de 2012.
A nova corrida do ouro em Serra Pelada — sem as tensões, o sofrimento e as cenas bíblicas dos anos 80
Operários da mineradora canadense no túnel escavado
recentemente em Serra Pelada. A terra rica em partículas de ouro será retirada
e levada à superfície por máquinas (Foto: Antônio Milena / Milenar)
No
local onde existiu o maior garimpo do mundo, ainda há muito ouro. Em 2013, esse
tesouro começará a ser explorado de forma organizada e com o uso de tecnologia
moderna
Vinte e cinco anos depois do fechamento do maior
garimpo do mundo, Serra Pelada voltará a produzir ouro. No lugar dos 100.000
homens de todas as partes do Brasil que se amontoaram nos terraços enlameados
de uma cratera cavada no sul do Pará em busca do metal precioso, em condições
precárias, haverá máquinas modernas operadas por funcionários com carteira
assinada e protegidos por equipamentos de segurança.
Nos anos 80, uma cena bíblica: a terra retirada no
garimpo era carregada em sacos no ombro por milhares de garimpeiros, e a
escavação se fazia com pás e picaretas (Foto: Luis Novaes - 1982 / Folhapress)
Em vez de garimpeiros agachados
em frente a uma fogueirinha fervendo mercúrio em uma panela para separar as
partículas de ouro da terra, serão utilizados complexos processos não poluentes
de decantação, flotação e fundição para produzir barras de ouro de 25 quilos
com 80% de pureza.
Nas próximas semanas, a
mineradora canadense Colossus Minerals, que está investindo 700 milhões de
reais em Serra Pelada, concluirá a medição da reserva ainda intocada, que
escapou às escavações artesanais dos garimpeiros na década de 80.
Em 2010, quando a cooperativa dos garimpeiros
ganhou do governo federal o direito de retomar a exploração de seu tesouro, os
técnicos do Ministério de Minas e Energia estimaram em 50 toneladas a
quantidade de ouro ainda existente no local. Se o cálculo se confirmar,
será mais do que se conseguiu extrair nos sete anos em que o garimpo funcionou,
entre 1980 e 1987 (40 toneladas).
SEM MERCÚRIO -- No processo industrial, a separação
será feita com técnicas não poluentes, como a decantação e a fundição -- na
foto, em fase experimental (Foto: Antonio Milena / Milenar)
Os velhos métodos, contudo, não servem mais. O ouro remanescente encontra-se misturado em uma camada de argila, a 200 metros de profundidade, que se estende a sudoeste da cratera aberta nos anos 80
Os garimpeiros não sabiam disso e, depois de retirar o ouro que estava mais próximo à superfície, continuaram cavando na vertical. Em vão. Eles já não conseguiam encontrar uma quantidade significativa do minério e acabaram atingindo um lençol freático, que começou a inundar o garimpo. O governo, então, mandou interromper as atividades no local.
COM MERCÚRIO -- Na década de 80, os garimpeiros usavam
metal tóxico para isolar o ouro das impurezas (Foto: Claudio Laranjeiras)
Para retomar a exploração, a
cooperativa teve de criar a Serra Pelada Companhia de Desenvolvimento Mineral,
uma joint venture com a empresa canadense. Os 38.000 garimpeiros cooperados não
precisarão fazer nada além de dividir entre si 25% dos lucros da operação.Na Vila de Serra Pelada, situada no município de Curionópolis, há uma gameleira de 15 metros de altura que serve de ponto de encontro de homens que há trinta anos sonham com a reabertura do seu Eldorado. A árvore ganhou o apelido de “Pau da Mentira”, por causa das histórias improváveis contadas à sua sombra, mas bem que agora poderia ter seu nome mudado para “Pau da Esperança”.
José Mariano dos Santos, de 58
anos, acredita que a nova fase de Serra Pelada poderá garantir a ele e seus
colegas uma renda mensal de 20.000 reais. No passado, Santos chegou a acumular
411 quilos de ouro, o equivalente a 47 milhões de reais em valores atuais, o
que fez dele o segundo homem mais rico do garimpo. Esbanjou tudo em festas, em
viagens extravagantes e em investimentos desastrados. Hoje ele sobrevive do
salário mínimo que recebe como aposentadoria.
Os representantes da mineradora
se preocupam com as expectativas dos seus sócios brasileiros. “Não temos dúvida
de que esta mina tem potencial para se tornar uma das mais produtivas do mundo,
mas infelizmente não será capaz de enriquecer esses 38.000 homens”, diz a
canadense Ann Wilkinson, vice-presidente da Colossus.
ALAGADA -- Na gigantesca, impressionante cratera
escavada nos anos 80, os garimpeiros que eram donos de "barrancos"
contratavam outros homens para ajudá-los a retirar a terra com ouro. O lago que
se formou no local tem uma área equivalente à de dois estádios do Maracanã
(Foto: Antonio Milena / Milenar)
Para atender à remuneração
sonhada pelos garimpeiros, a mineradora teria de atingir uma média de extração
anual dez vezes a das principais minas do mundo. Isso é impossível, mesmo com a
alta concentração de ouro que os técnicos estão encontrando em Serra Pelada.
A média confirmada até agora é de
20 gramas de ouro por tonelada de terra. Em comparação, a média na maior mina
em operação no Brasil, em Paracatu, em Minas Gerais, é de 0,45 grama por
tonelada. Durante a fase de prospecção, os geólogos descobriram que as imagens
de enormes pepitas de ouro, que ajudaram a fomentar a corrida a Serra Pelada
nos anos 80, não se repetirão. Essas pedras já eram raras naquele tempo, e,
agora, mais ainda.
Cada terraço retangular é um "barranco",
medida de propriedade dos garimpeiros na década de 80 (Foto: Grislaine Morel /
Gamma)
O ouro em pó que sobrou está diluído no solo
argiloso. Para que se chegue aos pontos de maior concentração do metal, foi
construído um túnel de 1 600 metros de extensão e 5 metros de largura. Mesmo
que haja alguma pepita em meio às 150 toneladas de terra que serão recolhidas
diariamente por pequenas escavadeiras, ela acabará triturada no processo
mecânico de separação do metal.
A dificuldade técnica e o alto custo da extração na
“nova” Serra Pelada são compensados de duas formas. Primeiro, o ouro não é o
único tesouro do local. Há quantidades significativas de platina e paládio,
metais de grande valor industrial e para a confecção de joias. “Só são
conhecidas outras duas minas no mundo onde o ouro vem acompanhado desses
metais”, diz o presidente da Colossus, o canadense Claudio Mancuso.
NOVA
ILUSÃO -- O garimpeiro José Mariano dos Santos, o Índio, achou 411 quilos de
ouro, tornando-se um dos homens mais ricos de Serra Pelada (no detalhe, no
auge). Perdeu tudo. Ele sonha em receber 20.000 reais mensais com a parcela que
lhe cabe na repartição dos lucros da mineradora com a cooperativa dos
garimpeiros
A segunda compensação é a crescente demanda pelo ouro, motivada pela desvalorização do dólar e pela instabilidade nas bolsas de valores. No ano passado, o metal acumulou uma alta de 16%, enquanto o índice Bovespa caiu na mesma proporção, e os bancos centrais compraram 440 toneladas de ouro, quase seis vezes mais do que em 2010.
O aumento da procura fez o preço da onça troy (equivalente a 31 gramas) saltar de 300 dólares, em 1998, para 1 710 dólares, na semana passada. Da preferência dos investidores do século XXI à febre que levou milhares de brasileiros a abandonar a família para tentar a sorte em Serra Pelada nos anos 80, o ouro é desejado por uma razão simples. Ele é raro. Todo o ouro já extraído no planeta, 160.000 toneladas, caberia em apenas duas piscinas olímpicas.
FONTE: REVISTA VEJA, EDIÇÃO DE 31 DE OUTUBRO DE 2012.
A veja deveria mostra a verdade. A Colossus juntamente com a diretoria safada da Coomigasp estão roubando o garimpo. Enquanto não houver uma reportagem buscando a verdade estess ladrões continuarão fazendo farra com empréstimos fraudulentos junto a Colossus.
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